quarta-feira, 1 de junho de 2016

Crônicas para uma cidade Ou Amanhecer abortado (RJ)

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Foto: divulgação

Multifoco Companhia de Teatro

A boa estreia da Multifoco Companhia de Teatro

“Crônicas para uma cidade Ou Amanhecer abortado” é o primeiro espetáculo longo assinado pela Multifoco Companhia de Teatro, formada com atores remanescentes da Escola Técnica Estadual Martins Penna. A dramaturgia é inspirada na obra do romeno Matéi Visniec, unindo trechos de várias de suas peças em um só contexto. Em questão, está um nobre convite à reflexão política a partir do revelar de estruturas de poder, falência de ideologias, relações comprometidas pela cultura do consumo, de transformação de valores, etc. Dirigida por Ricardo Rocha, a produção teve no elenco Bárbara Abi-Rihan, Erick Tuller, Thiago Becker e Viviane Pereira, com elas em destacáveis trabalhos de interpretação. As ótimas colaborações do desenho de luz do diretor, do cenário dele e de Nívia Faso e principalmente dos figurinos dessa última elevaram os níveis estéticos da obra, que ficou em cartaz durante o mês de maio na Sala Bel Garcia da Sede das Cia, na Lapa.

Ótima direção de Ricardo Rocha
Ao longo da encenação, Bárbara Abi-Rihan, Erick Tuller, Thiago Becker e Viviane Pereira dão vida a diferentes figuras que defendem fábulas diversas inspiradas na obra de Matéi Visniec. Cada quadro se constitui, se desenvolve e se desfaz, dando lugar para o seguinte. E o sentido de “Crônicas para uma cidade...” se constrói a partir da visão do espectador por sobre o todo. De um modo geral, todas as cenas se relacionam a partir de uma crítica à alienação cultural e política e à falência parcial do posicionamento ideológico. Abrindo espaço para interrogações pertinentes ao momento atual de reviravoltas políticas e de manifestações contínuas no Brasil, o espetáculo recupera e dialoga com contexto de fora da peça, do palco, que o espectador traz. Tudo isso é muito positivo.

No entanto, o melhor aspecto desse espetáculo é o modo como a Multifoco Companhia de Teatro exibe maturidade no uso dos signos teatrais. Com uma linguagem bastante específica à peça, a obra tem identidade marcada pelo lúdico, pela via alternativa, pelo abandono do realismo. A preferência por tons de vermelho, o uso intermitente do universo semântico das camisas e manutenção de fortes elos de ligação com figuras clownescas talvez argumente em favor de absurdo que, sendo caro a Visniéc, trata com complexidade de temas contemporâneos. Nesse sentido, há que ser bastante elogiável a ótima direção de Ricardo Rocha nesse espetáculo, ele que há dois anos foi ator em uma montagem de “O último Godot”, do mesmo dramaturgo.

Grupo jovem em trabalho muito positivo
Erick Tuller, Thiago Becker, mas principalmente Viviane Pereira e Bárbara Abi-Rihan têm bons trabalhos de interpretação. Mais que eles, as atrizes oferecem sólidas marcas de entrega à proposta que tornam o espetáculo mais sedutor ao público que pode demorar em comprar a estética apresentada. Há força, excelente uso do corpo e de seus movimentos possíveis e clareza na viabilização das intenções. É bom ver um grupo jovem já em trabalho tão positivo!

Dos principais méritos de “Crônicas para uma cidade Ou Amanhecer abortado”, participam o desenho de luz de Ricardo Rocha e as colaborações do cenário dele e de Nívia Faso. Para além desses elementos, o figurino assinado por Faso é brilhante. Em exata correlação com a dramaturgia e com a encenação, os diversos usos exaustivos de camisas (em uma peça, de gravatas) incluem no debate a discussão sobre o que significa(m) esse(s) traje(s) em nossa sociedade. Com qualificado apuro na composição estética, o guarda-roupa eleva os valores da obra.

A Multifoco Companhia de Teatro, que estreou esse espetáculo dentro do Projeto Furo de Pauta do SESC de São João de Meriti no fim de 2015, começou bem sua participação na grade teatral da capital fluminense. Evoé!

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FICHA TÉCNICA
Texto: inspirado na obra de Matéi Visniec
Dramaturgia e Adaptação: Multifoco Companhia de Teatro
Elenco: Bárbara Abi-Rihan, Erick Tuller, Thiago Becker e Viviane Pereira
Direção e Iluminação: Ricardo Rocha
Direção Musical e Preparação Vocal: Raoni Costa
Cenografia: Nívea Faso e Ricardo Rocha
Figurino: Nívea Faso
Costureira: Lurdinha
Fotografia: Dona Mariana Fotografia e Hélio Melo
Stand in e Suporte Técnico: Douglas Amaral
Produção Executiva: Camila Zampier
Direção de Produção: Multifoco Companhia de Teatro

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